Mexeu comigo, mexeu com todos!
por Vera Golik
Eu costumo fazer muitas palestras sobre autoestima em que toco pontos delicados e cruciais para que possamos vencer nossos medos, não cair nas armadilhas dos estereótipos, nos fortalecer para que não sejamos afetados pela forma que os outros nos julgam e também para aprender a julgar menos e dar espaço para as diferenças e os diferentes de nós.
Um tipo de prática perversa que afeta muito a autoestima de qualquer pessoa ganhou notoriedade entre crianças e adolescentes de todas as classes sociais em todo o planeta e vem sendo cada vez mais estudado e comentado nas mais diferentes esferas da convivência humana. É o tal do bullying.
Quando recebi o convite de uma professora amiga e muito querida, a Mazé Fernandes, para falar sobre autoestima para seus alunos e outras crianças de uma escola pública do extremo sul da cidade de São Paulo — a E.E. Prof. Adolfo Casais Monteiro —, pensei em fazer uma dupla com uma pessoa antenada, que domina a linguagem dessa moçada. Foi assim que eu e a Youtuber Fabiola Menezes, do canal “A Fabi por Aí” fomos até esta Escola Estadual para falar de autoestima e bullying para um grupo bem diverso de jovens. Um novo desafio que você pode ver parte do “making of” no canal da Fabi.
Afinal, o que é bullying?
O termo bullying vem do inglês to bully – que significa tiranizar, oprimir, ameaçar ou amedrontar – e é utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos, causando dor e angústia e sendo praticado, em geral, dentro de uma relação desigual de poder. Muito comum na adolescência, o bullying define os valentões que, principalmente nas escolas, procuram intimidar os colegas que tratam como inferiores.
Mas o bullying não acontece apenas no ambiente escolar. Pode surgir no trabalho, em um grupo de amigos, na família – na relação do casal ou entre irmãos, por exemplo. O fato é que este é um problema global que vem sendo colocado às claras, pois a agressão física ou moral repetitiva deixa sequelas psicológicas na pessoa atingida.
O termo ficou mais conhecido a partir de eventos trágicos noticiados pela mídia, principalmente em escolas americanas – como aconteceu no Massacre de Columbine, em 1999, e mais recentemente em escolas brasileiras também. De toda forma, tanto a literatura como a história nos mostra que a prática de tentar humilhar alguém por ser diferente é um fenômeno bastante antigo e nos demonstra como esse ato covarde tem um grande poder de destruir a autoestima das pessoas.
Vale ressaltar que em 20% dos casos, o praticante de bullying também é ou foi alvo desse tipo de desrespeito. Nas escolas, a maioria dos atos de bullying ocorre fora da visão dos adultos e, seja na escola, no trabalho, entre amigos ou na família, grande parte das vítimas não reage ou fala sobre a agressão sofrida – muitas vezes, a criança, o adolescente ou mesmo o adulto sofre por anos, sendo alvo de gozações, enfrentando todos os dias as humilhações diante dos colegas, pois precisa continuar estudando, trabalhando ou convivendo com pessoas abusadoras.
Os ataques de bullying ocorrem muito também no espaço virtual. O anonimato do agressor que a Internet favorece, acaba, por vezes, incentivando condutas abusivas, e desrespeito à ética. É quando a “rede”, uma “terra de ninguém”, se torna cenário de insultos, campanhas vexatórias, vazamento de imagens constrangedoras e outras práticas planejadas por um ou mais indivíduos com a intenção de atingir negativamente o outro. Como se fosse aceitável, em nome da “liberdade de expressão”, ofender as pessoas. Os haters que o digam.
Enfim, na nossa experiência na escola “Casais” eu e a Fabi nos deparamos com o enorme desafio de fazer com que um grupo de adolescentes cheios de energia, irrequietos, muitos com histórico de abandono familiar e certamente vítimas de bullying, prestasse atenção no que estávamos tentando dizer. Não foi fácil. Num primeiro momento a impressão é de que jogamos palavras ao vento… Mas, os comentários e o carinho que recebemos de muitos deles no final da apresentação, mostrou que valeu à pena encarar a tarefa que, em vários momentos, nos pareceu uma missão impossível. As reações nos mostraram que ao menos uma parte deles ouviu e refletiu sobre o que fomos lá para dizer. O papo reto que tivemos com vários nos emocionou, pois em vez de encará-los como casos perdidos, acreditamos neles e pudemos contribuir, nem que um pouquinho, para que se gostassem mais e para que soubessem que podem e devem deixar uma boa marca no mundo. Uma marca que é só deles.
Eles perceberam que quando alguém diminui alguém está se diminuindo também. No fim, um grito de paz ficou gravado em todos nós: mexeu comigo, mexeu com todos!
Segue aqui um pouco do papo que eu e a Fabi tivemos após essa experiência…
Vera Bellezza – Fabi, por favor, se apresenta para nós…
Fabi – Oi vocês, eu sou a Fabíola. Tenho 32 anos de idade e sou professora de pilates. Também tenho um canal no YouTube chamado “A Fabi Por Aí”, com mais de 12.600 inscritos e cerca de 250 vídeos publicados, onde abordo temas como viagens, livros, sustentabilidade, receitas vegetarianas, estilo de vida, humanismo, filosofia de vida e budismo, que é a religião que eu pratico. Utilizando como base minhas experiências de vida, tento ajudar a quem pede conselhos de uma boa amiga e até puxões de orelha, quando necessários. Procuro levar conteúdo em que acredito e que possa ajudar, de alguma forma, a melhorar a vida e a relação de quem me segue com o meio em que vive.
Vera Bellezza – Conta para gente como surgiu a ideia de fazer um Canal no YouTube?
Fabi – O canal, na verdade, nasceu quando eu comecei a viajar com bastante frequência e queria mandar os registros – fotos e vídeos das viagens – para minha mãe, que na época não tinha WhatsApp. Foi aí que resolvi gravar minhas experiências para que ela pudesse assistir de casa e me acompanhar nas minhas andanças até eu voltar. Com o tempo, fui agregando novos assuntos que sentia falta nas mídias sociais, como dicas de livros legais, assuntos que me fizessem pensar além do meu próprio umbigo… Foi assim que o canal cresceu e hoje abordo temas como Sustentabilidade, Estilo de Vida Saudável, Dicas Culturais, Viagens, Filosofia de Vida…
Vera Bellezza – Você já sofreu bullying? Quando e como foi isso?
Fabi – Sofri bullying desde a infância. Tenho uma pinta no rosto que viviam chamando de barata, abelha, sujeira, etc… e isso seguiu até a faculdade, comprovando que idade não é sinônimo de maturidade…
Vera Bellezza – Como você transformou sua experiência pessoal em algo que te deixasse mais forte e que melhorasse sua autoestima?
Fabi – Em função do bullying cresci bastante rancorosa e com raiva, na defensiva, impedindo que as pessoas se aproximassem. Achava que assim eu não daria liberdade para esse “tipo de brincadeira”. Não funcionou. Até que, ao chegar na idade adulta, já cansada de ouvir isso ou aquilo, criei minha própria identidade. Percebi que não importasse o que eu fizesse, sempre alguém criticaria alguma outra coisa… e por ser tão cansativo ter que viver para “agradar os outros” decidi ser o melhor de mim mesma… sem tentar me dobrar para as cobranças externas sobre o que eu deveria ser ou fazer… e assim, hoje eu procuro ajudar outras pessoas a enxergar dessa mesma maneira. Não foi um processo fácil. É um trabalho contínuo. Exercitar a postura firme, sem perder a sensibilidade, o ser direta e, ao mesmo tempo, compreensiva, é um grande aprendizado. Minha filosofia de vida, o Budismo, me ajuda muito a acreditar mais e mais em mim e também nas outras pessoas. Somos todos diferentes e essa diversidade é que faz o mundo mais bonito e interessante de se viver.
Vera Bellezza – O que você acha sobre cada um criar sua própria marca?
Fabi – Somos mais de sete bilhões de pessoas no mundo… Segundo as Nações Unidas, em 2100 seremos mais de 11 bilhões de pessoas e uma diferente da outra. A maioria tenta parecer igual, pertencer a um grupo… mas se os outros já existem, por que ser mais uma cópia?? Minha sugestão? Seja a diferença. Para mim, é assim que deixamos a nossa marca.
Vera Bellezza – Como você vê os ídolos em uma época em que tudo é tão efêmero e logo cai no esquecimento?
Fabi – Me preocupa perceber que os novos ídolos somem com a mesma velocidade que surgem… mas já que surgem, o interessante seria que cada um deles que está aí nesse momento de “fama efêmera” aproveitasse esse tempo e levasse seu público não só a se divertir, mas também que pudesse estimulá-lo a fazer mais em prol do mundo.
Vera Bellezza – O que mais gostaria de deixar registrado para inspirar cada pessoa a criar sua marca no mundo?
Fabi – Seja o melhor ser humano que puder ser, independente das circunstâncias, pois o importante não é o que a vida te fez, mas o que você fez com o que a vida te fez.
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