A maravilha que é ter um filme de heroína dirigido por uma mulher
Certamente não há personagem mais lembrada como ‘girl power’ no mundo dos super heróis do que a Mulher Maravilha. Criada há 76 anos justamente para suprir uma falta de representatividade feminina nos quadrinhos, ainda hoje a semideusa Diana Prince inspira garotinhas e mulheres feitas pelo mundo todo.
Mesmo com todo o apelo ideológico e comercial da personagem, demorou 7 décadas e meia para que ela ganhasse seu próprio filme solo. Está certo de que faz apenas uns 15 anos que os filmes de heróis começaram a ocupar um pedaço de respeito nas agendas de lançamentos anuais, mas, até então, este era um território basicamente dominado por homens – com ou sem super poderes, na frente e por trás das câmeras.
Daí chega a super produção Mulher Maravilha em 2017: um filme maravilhoso, divertido, com uma protagonista cativante, bem escrito e bem dirigido. Uma obra que vai arrecadar muito dinheiro, certamente, mas vai ficar mesmo no coração e na memória dos fãs do gênero.
E daí é incrível que este seja um filme tão bom e que tenha sido dirigido por uma mulher. O nome da diretora é Patty Jenkins, que até então tenha tido uma carreira inexpressiva em Hollywood. E isso não significa que ela não fosse boa diretora, mas é certamente sinal de que lhe faltaram oportunidades numa indústria muito machista. Antes de MM, Jenkins havia dirigido apenas um filme, Monster, que deu o Oscar a Charlize Teron, lá no começo dos anos 2000. Depois ficou relegada à televisão, dirigindo alguns episódios de séries como The Killing e Entourage.
A diretora conseguiu um equilíbrio entre o drama, os diálogos e a história introdutória da heroína contada sem pressa com cenas de ação extremamente bem coreografadas, visualmente lindas e empolgantes. Seu trabalho merece ainda mais aplausos quando considerarmos que se trata de um filme da DC – que ainda não havia conseguido criar um filme realmente bom como são os da Marvel.
Jenkins acertou onde seus colegas homens, que dirigiram outros filmes da DC, sempre erraram: ela toma o tempo necessário para o desenvolvimento dos personagens, para contar a história deles com calma, sabendo o momento certo de introduzir a ação. Assim, ela faz uma obra-prima evitando a confusão na cabeça do público na mesma medida que traz momentos empolgantes, para vibrar com a ação que esperamos no gênero.
Gal Gadot, a belíssima israelense que encarna a personagem-título, sempre disse em entrevistas que o mérito do filme ser tão equilibrado é justamente de Patty Jenkins:
“Eu dou o crédito a Patty por não a tornar uma mulher irritante e intimidadora. A Mulher-Maravilha pode ser muito charmosa, acolhedora e ter muita compaixão e amor pelo mundo. Ela pode ser doce e inocente. Ao mesmo tempo, ela também é uma semideusa que pode dar porrada em você e ser bem durona, esperta e confiante. Basicamente ela é de fácil identificação”.
A atriz também sempre fez questão de frisar que Jenkins não foi escolhida para dirigir o filme por ser uma mulher, mas por ser a profissional certa, que conseguiria estar alinhada com a visão que o estúdio tinha para esta obra.
Mas o filme é um manifesto feminista do começo ao fim. Fala da força das mulheres em sua essência e em diálogos descontraídos, como quando Diana fala sobre o papel biológico dos homens. O feminismo fica evidente também nos questionamentos que a Princesa de Themyscira faz sobre o papel (secundário) das mulheres no mundo real, fora da sua ilha paradisíaca de amazonas – ainda mais que a história se passa no início do século 20.
O mundo precisa da Mulher Maravilha. E precisa também de Patty Jenkins, à frente do filme mais caro já dirigido por uma mulher (custou 150 milhões de dólares). A diretora tem tudo para galgar seu posto no alto escalão dos diretores. Mas ainda é cedo para afirmar que ela conseguirá, não por seus méritos (que são inúmeros), mas por Hollywood em si, uma indústria cruel que ainda precisa mudar muito e dar mais oportunidades iguais a mulheres maravilhosas.
IMAGENS: DFree / Shutterstock.com, Divulgação Warner Brothers, The Hollywood Reporter
Carol Maglio é a blogueira conhecida como Pãozim De Queijo, além de produtora audiovisual, apresentadora de TV, modelo plus size e especialista em mídias sociais.
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