Domésticas estrangeiras são escravizadas em condomínio de luxo em São Paulo

Três mulheres filipinas, que trabalhavam como babás e empregadas domésticas em casas de um condomínio de luxo na região metropolitana de São Paulo, foram resgatadas por auditores fiscais do Ministério do Trabalho no início de agosto. Elas estavam em situação análoga ao trabalho escravo.

As mulheres, que não quiseram se identificar, relataram um cenário de horror. 

A jornada de trabalho era de 16 horas diárias. Começava às seis da manhã e seguia até as dez da noite, de domingo a domingo. Quando os patrões recebiam os amigos, elas só podiam dormir depois que o último convidado fosse embora. Nunca receberam um centavo a mais pelas horas extras. 

Outra situação comum era a fome. Para aguentar o ritmo, uma delas chegou a comer comida de cachorro. “Perguntei à patroa se podia comer um ovo e ela disse ‘não’”, relata. 

Elas foram interceptadas pelos técnicos do Ministério do Trabalho depois que passaram mal devido à má alimentação e precisaram de atendimento médico. Uma delas alega que trabalhou seis meses sem um dia de folga sequer. 

A auditora do Ministério, Lívia Ferreira, explica que o Brasil tem uma regulação forte para o trabalho doméstico, mas que os estrangeiros ainda estão expostos a abusos dessa natureza. 

O Ministério do Trabalho passou o caso para a Defensoria Pública da União. O crime foi caracterizado como trabalho análogo ao escravo devido à combinação de jornada excessiva, atividades forçadas e servidão por dívida. O Ministério Público do Trabalho também analisa a situação. Os órgãos devem entrar com ações individuais pedindo verbas rescisórias e indenização por danos morais. 

Além deste caso, os investigadores estão de olho em 180 outras situações similares. Cerca de 130 empregadores estão na mira, inclusive um hotel de luxo. Além de trabalhadores filipinos há também alguns nepaleses.

Eles vêm ao Brasil depois de comprarem a ideia, vendida por empresas de agenciamento de mão de obra, de que irão receber bons salários e obter residência fixa depois de apenas dois anos de trabalho. A remessa de dinheiro do exterior para as Filipinas é uma importante fonte de renda do país, de forma que a atividade é estimulada pelo governo. Os valores que chegam por lá já equivalem a 10% do PIB – e boa parte vem das trabalhadoras domésticas.

Fonte: Pragmatismo Político 

Imagem: Shutterstock