Você ainda sabe ligar para uma amiga?
- Oi, tudo bem? Sou eu... Nanna! Éerrrr... pode falar?
Foi com constrangimento que iniciei a minha primeira ligação para uma amiga na tarde de ontem. Desde que o WhatsApp foi bloqueado, eu e mais um bando de gente fomos obrigados a nos comunicar por voz.
Que estranho... constrangida por ligar para uma amiga? Com medo de estar atrapalhando? E desde quando amiga atrapalha?
Eu sempre fui muito faladeira. Via telefone e na vida real. Sou daquelas que driblava o cadeado do aparelho telefônico de casa ligando no toquinho. E hoje a gente se acomoda em falar, por exemplo, com três ou quatro superamigas ao mesmo tempo, de uma única vez. Ou com as 20 e poucas mães do grupo da escola. Ou precisamos dar um recado e aí mandamos uma mensagenzinha. Afinal, não é nada urgente e não precisamos atrapalhar a pessoa.
Ah, vá! Como se parar tudo quando o celular apita avisando que chegou mensagem não atrapalhasse. DUVIDO que você se contenha, por 30 ou 40 minutos (sabendo que tem uma mensagem nova para você ali), sem olhar, pegar e, pelo menos, ler (para talvez esquecer de responder).
Eu poderia justificar que moro fora de São Paulo, que os aplicativos de mensagem facilitam, que mato a saudade da família que mora em Salvador. E blá, blá, blá. Mentira! A gente se acomoda com o fácil e rápido e se distancia do mundo real. E das pessoas reais.
Nos acostumamos a opinar sobre o corte de cabelo da amiga por foto, escutar a voz por mensagens de áudio (preguiça disso!), a brigar com carinhas ou bichinhos e a matar saudade com uma longa e solitária conversa via chat!
E ontem, ao ligar para a primeira amiga, e depois para a segunda, a terceira, o gerente do banco ou a cuidadora dos meninos, eu percebi que texto nenhum substitui o escutar da voz. Emoticon nenhum substitui uma gargalhada. E, melhor que isso, só um encontro ao vivo e a cores.
Os memes da internet rolam soltos sobre o nosso comportamento sem WhatsApp. A cidade nordestina Largarto nunca foi tão falada (e detestada!). E eu penso: precisa rever isso aí, pessoal! Confesso que a vida está mais tranquila, mais organizada, o celular está sendo utilizado para fazer ligações (até porque, né?!) e o trabalho não está sendo tão interrompido pelo apitos intermináveis do app verdinho.
A vida digital é ótima. Eu gosto e não sei mais viver sem. Mas sair da zona de conforto é bom e nos faz resgatar coisas legais. Como agora, que estou pegando o telefone fixo e a agenda para achar uma companhia pro almoço.
Você ainda lembra como se faz isso?
Nanna Pretto é jornalista, baiana, casada com paulista e mãe de dois meninos.
É autora do blog Dica de Mãe, que deu origem ao livro “101 coisas que você precisa fazer com seus filhos antes que eles cresçam”. É corredora há mais de 15 anos e tenta fazer da ioga e do ballet um hábito. Ama seriados, reality shows e reprises de filmes.
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