Tá tudo bugado, Mamãe!
A vida é assim: cada um pensa de uma forma, a gente concorda ali, descorda ali e continuamos seguindo, em teoria, juntos. Acho que essa filosofia de vida era mais fácil de ser colocada em prática antes das redes sociais. Independente de política, time de futebol ou religião (coisas que me recuso a opinar), o que eu vi nas últimas semanas foi um toma-lá-dá- cá sem limites. Agressões gratuitas, desavenças entre amigos, desaforos. Uma tristeza virtual, diga-se.
Eu sempre gostei muito das redes sociais por elas me aproximarem de amigos distantes. Pensava aqui comigo: poxa, eu em São Paulo, minhas amigas no Rio e em Salvador, minha família longe... Que bom que a gente consegue continuar perto, mesmo que virtualmente.
E, pela primeira vez, eu pensei em sair das redes sociais. Triste com o que presenciei. Triste com o que li.
E não estou falando da babá nem da camiseta da seleção brasileira. Estou falando –aliás, pensando– como falta amor. Como falta respeito.
Tá tudo bugado, como diz meu filho Gabriel, de quase oito anos.
E está mesmo. Deu pau, filho! Ou, na linguagem técnica da coisa, o sistema (brasileiro) está combug seríssimo.
Circula hoje pela internet desenhos feitos por crianças sobre tudo que estamos passando. Seria ingenuidade da minha parte esperar manifestações infantis com um pouco mais de ternura?
Como essas crianças aprendem sobre cadeia, morte, corrupção, xingamentos e ofensas, se não com os seus pais ou responsáveis? Não vou posar de certinha ou dona da verdade, aqui também falamos abertamente sobre todos os assuntos, mas, gente, quêdi o respeito? Aonde foi que isso se perdeu? Ensinar o versinho “ei, não sei quem, vai tomar não sei aonde” para crianças de sete, oito anos é legal?
Tsc, tsc...
Eu comecei ir pra rua cedo, aos 5 anos, quando crianças e adultos do barro do Rio Vermelho, em Salvador, se juntaram para tentar fazer um espaço cultural numa antiga fábrica de papel desativada. Foi em vão, perdemos para uma rede de fast food. E desde então já gritei muito por aí. Em Salvador e aqui em São Paulo. Mas nunca vi nada parecido com as manifestações das redes sociais.
Falta livro, falta cultura, falta menos tempo em frente ao smartphone e mais tempo no mundo off-line do lar. Falta ir para as ruas com os filhos NÃO APENAS no dia da manifestação. É preciso ensinar sobre cidadania, respeito, valores e honestidade todos os dias.
Notícia do jornal de Salvador, de 1984 sobre o Movimento da Fábrica.
Crianças, palhaços, artistas. O que a gente queria, lá em 84? Mais cultura, mais espaço, mais lazer!
Eu, aos 5 anos, com meu pai e amigos, em meio aos escombros da Fábrica de Papel já desativada, em Salvador.
Sabe aquele “só um pouquinho” na vaga preferencial? Não pode.
Sabe o “me empresta a sua carteirinha para eu pagar menos?” Não pode.
Sabe o “pode fazer, pois ninguém vai descobrir?” Não pode.
O que está em baixa não é apenas a nossa política. São os valores, os princípios e a educação.
Sem isso, aquela luz no fim do túnel, não será uma reforma social e cultural. Será um trem vindo de frente.
Nanna Pretto é jornalista, baiana, casada com paulista e mãe de dois meninos.
É autora do blog Dica de Mãe, que deu origem ao livro “101 coisas que você precisa fazer com seus filhos antes que eles cresçam”. É corredora há mais de 15 anos e tenta fazer da ioga e do ballet um hábito. Ama seriados, reality shows e reprises de filmes.
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