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Perpetuando o amor através de filhos - apenas não

Momento Lifetime
Por Lifetime Brasil el 23 de July de 2022 a las 00:30 HS
Perpetuando o amor através de filhos - apenas não-0

Sobre o anúncio publicitário romantizado (e bonito, por que não?) do Gregório Duvivier, eu ia ficar na minha. Mas uma conversa me engatilhou. Então, uma palavrinha sobre o trecho

 


“Se ao menos a gente tivesse tido um filho, eu penso. Levaria pra sempre ela comigo.”

 


O que eu mais vejo é falta de responsabilidade em assuntos sobre maternidade/paternidade. Esse tipo de discurso do Gregório, embora pareça inofensivo, faz parte disso. Como as pessoas não aprendem com as experiências alheias, sempre acabam tendo filhos pelos motivos ou nos momentos errados e se arrependendo amargamente, não porque não amam seus filhos ou porque a experiência não é rica, única e enternecedora. Mas porque não é fácil. Ninguém imagina, por exemplo, que vai se separar depois e que aquele homem participativo e maravilhoso pode não querer pagar pensão e só ser pai de fim de semana e deixar você sozinha com bebê chorando enquanto vai para a balada, ou deixar você pra lidar com bebê doente porque precisa trabalhar ou a dificuldade que você mesma vai ter pra trabalhar e para fazer coisas normais da sua rotina, enquanto toda a pressão para ser “boa mãe” fica nas suas costas.

 


“Ai, que lindo, ele quer ter um filho comigo pra manter uma parte de mim”, “Olha que lindo, o Gregório ama tanto a Clarice que queria ter uma parte dela” mas filho é um ser humano autônomo e uma responsabilidade pra vida toda. E o que mais tenho são amigas que amam seus filhos, mas que teriam pensado/esperado/planejado melhor antes de ter um se soubessem de verdade como é a realidade. Não acho que seja ruim ele dizer que queria ter tido um filho com ela, não é pra deixar de ter porque pode não dar certo, mas é porque o discurso do “vamos ter um filho para perpetuar nosso amor” propaga um ideal que só é bonito no papel e tem muita menina que cai nessa e inevitavelmente se arrepende. Não dos filhos. Mas de se tornar mãe esperando que o companheiro fizesse seu papel de pai também.

 


E eu posso falar por mim que, aos 19 anos disse a meu ex que queria ter um filho pra manter uma parte dele, porque houve uma situação em que ele achava que ia morrer. Eu estava bêbada quando disse isso e nós não fizemos nenhum plano, mas acabei engravidando mesmo e enfim.

 


Daí eu vi esse post no Facebook:

 


Perpetuando o amor através de filhos - apenas não - 1

 


E uma amiga disse que era um argumento forçado, defendendo que “as pessoas às vezes colocam significância demais nas coisas” e perguntando se era “errado ter essa como uma das motivações para se ter filho”. E tudo o que eu consegui pensar é que quem escreveu o post acima foi uma mãe solteira também. E que talvez só a gente se entenda. Porque homem querendo ter filho são muitos, mas poucos são os que realmente se comprometem a serem pais.


 

 


Perpetuando o amor através de filhos - apenas não - 2Renata Arruda é jornalista de cultura e especialista em mídias socais. Mantém 
um blog sobre livros no Huffington Post Brasil e assina o Prosa Espontânea


TWITTER: @renata_arruda
INSTAGRAM: prosaespontanea