Pelo direto direito de morrer
Desde que eu li que a atleta belga Marieke Vervoort, portadora de uma síndrome degenerativa que paralisa suas pernas, pensa em encerrar a carreira nas Paralimpíadas do Rio 2016 e depois encerrar com a própria vida, eu comecei a pensar no direito de morrer. Na Bélgica, país de Marieke, a prática da eutanásia (direito abreviar a própria vida) é permitida. Mas no Brasil, não.
Então a gente não escuta muito falar disso. E eu nunca tinha pensado nessa vontade de encerrar com o próprio sofrimento sem dor. Ontem à noite eu comentei isso com o Gabriel. E a resposta dele, mais uma vez, chacoalhou meus pensamentos. “O que ela quer é morrer sem sofrer, né?! E por que isso não pode?”
Eu não entendo as questões sociais que fazem a eutanásia ser proibida no Brasil. E por isso fiquei sem resposta para o meu filho. Mas, pela primeira vez, falamos de morte. Eu –e acho que todo mundo– deseja morrer sem sofrer. Uma morte rápida, sem dor. E se você sabe que tem uma doença que não tem cura e que definhará com o tempo, seria justo com você e com as pessoas próximas prolongar o sofrimento e a tristeza?
“Todo mundo me vê sorrindo com minha medalha de ouro, mas ninguém vê o lado escuro. Sofro muito e, às vezes, durmo apenas 10 minutos por noite. O Rio é o meu último desejo”, disse a atleta a um jornal francês.
Eu entendi a decisão de Marieke, por mais triste que seja. Poxa, uma triatleta, detentora de recordes olímpicos em modalidades de corrida com cadeira de roda. Seria justo ela da fim a própria vida?
“O Rio é meu último desejo, espero acabar minha carreira com um pódio. Começo a pensar na eutanásia. Quero que todos tenham uma taça de champanhe na mão e um pensamento feliz para mim”, declarou a atleta a um jornal francês.
Se e justo eu não sei, mas é a vontade dela. E acho legal a lei respeitar isso. É um sentimento egoísta? Talvez, mas eu senti orgulho dessa mulher que tomou uma decisão tão importante para a vida. Ou para o fim dela.
Comecei a pensar no direto de morrer. Por que não? Eu não sei se teria essa coragem. Mas a última coisa que eu desejaria é ver a minha família sofrendo em prestação. Lidar com a possibilidade de morte é algo que hesitamos, mas ela esta aí, a um passo da nossa vida. E saber que vai morrer ou que os seus dias estão contados deve ser algo desesperador.
É para pensar e para refletir. É para pensar no próximo. E talvez rever os direitos do ser humano fazer o que quiser da própria vida.
Nanna Pretto é jornalista, baiana, casada com paulista e mãe de dois meninos.
É autora do blog Dica de Mãe, que deu origem ao livro “101 coisas que você precisa fazer com seus filhos antes que eles cresçam”. É corredora há mais de 15 anos e tenta fazer da ioga e do ballet um hábito. Ama seriados, reality shows e reprises de filmes.
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