A internet não é o playground do prédio
O que aconteceu essa semana com o adolescente que morreu por conta de um desafio da internet é culpa única e exclusivamente dos pais. A negligência não é de outros internautas nem da sociedade, mas dos pais que não conversam, não instruem e não estão perto dos filhos. E aí, precisa uma desgraça como essa acontecer, para o mundinho dos pais (do qual todos nós fazemos parte) parar e pensar: é preciso explicar para as crianças que internet não é um playground de gente real.
Sim, é preciso, é necessário e é dever dos pais. Escutei uma entrevista da advogada especialista em direito digital Patrícia Peck (ela é bam-bam-bam em segurança familiar na internet) e uma frase dela diz tudo: “os pais tendem a relaxar quando os filhos estão em casa ‘debaixo’ dos olhos. O que eles esquecem é que a internet é a rua. O filho está ali, mas ninguém sabe o que ele está fazendo nem com quem ele está andando.”
Não é só entregar o tablet. É entregar, conversar, ensinar e orientar. É mostrar o que pode e não pode ser feito e avisar que terá supervisão, sim.
Se eu mostrei a reportagem do menino que asfixiado? Sim! Mostrei, sentei junto, assistimos e conversamos. Orientei a ele que não é para entrar em salas de bate-papo online, que não é pra acessar os canais fora da playlist dele do Youtube (Leon, Rezende, Pyong, Manual do Mundo e afins) e que qualquer, mas qualquerzinho sinal de coisa estranha é para mostrar a um adulto.
Desafios? Nem pensar. Ele não sabe a dimensão disso. Esses dias chegou em casa rindo porque, na escola, a turminha colocou Mentos na lata de Coca-Cola para borbulhar. Daí para algo mais perigoso é um passo.
Por exemplo, ideia do meu próprio filho: colocar as bolinhas de m&m’s na garrafa de água para que ela mude de cor. E depois beber dessa água. O que está por trás disso? O menino ingeriu uma quantidade absurda de corante e ficou dois vias vomitando em casa.
Isso foi na escola, no dia do aniversário dele. Outras crianças acharam nojento e não fizeram. O cabeçudinho foi lá, fez a bobagem, passou mal e tomou esporro em casa.
Claro que conversei, expliquei, mostrei o que é corante e o risco disso. Ele descobriu que um amiguinho da sala é alérgico a esse tipo de substância e, se consumir, fica todo empipocado. Agora ele tem plena noção da burrada. E está mais atento (menos bobo, eu diria).
Poderia ser algo pior? Claro que sim! A imaginação é infinita. Eles não têm freios e o céu é o limite.
Por isso que nós, pais e mães precisamos tomar para si a responsabilidade de orientar essas crianças. Dá para usar eletrônico com segurança, dá para navegar em canais legais. Dá para desenvolver experiências bacanas (O canal Manual do Mundo, por exemplo, é demais!)
Dá para ser legal usando a internet. Desde que os pais façam a sua parte. Caso contrário, não dá para culpar ninguém pelas tragédias. A não ser preparar a chibata para a autopunição.
Conversar é, sempre, a melhor solução!
Nanna Pretto é jornalista, baiana, casada com paulista e mãe de dois meninos.
É autora do blog Dica de Mãe, que deu origem ao livro “101 coisas que você precisa fazer com seus filhos antes que eles cresçam”. É corredora há mais de 15 anos e tenta fazer da ioga e do ballet um hábito. Ama seriados, reality shows e reprises de filmes.
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