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Elas também programam

Momento Lifetime
Por Lifetime Brasil el 23 de July de 2022 a las 00:30 HS
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Em 2014, a ONG Girls Who Code publicou um artigo que afirmava que quando chegam aos quinze anos, as meninas já estão superando os meninos em matéria de ciência – e isso em praticamente todo o mundo, com exceção dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Canadá. Até a chegada da adolescência, as notas em matérias exatas como Matemática também são equivalentes para ambos os sexos. Sendo assim, algo acontece neste percurso que vai adolescência até a vida adulta que faz com que as mulheres se afastem do ramo das Ciências Exatas, permitindo que este se torne um campo predominantemente masculino. O que é curioso: a primeira turma a se formar em Ciência da Computação na IME-SP, em 1971, era 70% composta por mulheres. Este é um fato já bem conhecido, sendo sempre contado por Camila Achutti, diretora nacional da Technovation Challenge Brasil e fundadora do Mulheres na Computação, site que visa o empoderamento feminino neste mercado.

 

“Quando eu estava na faculdade de ciência da computação, pela IME-USP, encontrei uma foto da primeira turma do meu curso, de 1971, uma sala com 70% de mulheres, que viraram 3,7% no ano de 2013. Comecei a me envolver na teoria feminista para tentar entender esse cenário. Descobri que, nos anos 80, a programação estava logo no início e era compreendida como um processamento de dados, um recurso que as mulheres já conheciam como secretárias. A partir dos anos 90, quando foi destacado seu poder econômico, os homens passaram a aumentar sua participação nesse meio”, disse ela.

 

Com a entrada cada vez maior de homens no meio, pode-se começar a pensar sobre motivos para que um dos campos que atraía mais mulheres, hoje em dia concentrar tão poucas. Preconceito, barreiras culturais, oportunidades limitadas e autoestima provavelmente estão dentre eles. Para Camila, o estereótipo de gênero pode ser um dos componentes mais fortes: “a mulher tem que ser fofinha e cuidar de todo mundo, e o cara é o estereótipo de programador, 'faço tudo, trabalho de madrugada, não ligo para a minha aparência'. Então acho que existem outros quesitos que passam sim por essa falta de liberdade e esse machismo arraigado”.

 

Sendo a computação uma atividade ainda considerada masculina, não é de se espantar que o levantamento do IBGE em 2010 tenha mostrado que o salário médio das mulheres no setor de TI é 34% menor do que o dos homens. Nos cargos de liderança, elas podem receber até 65% menos. Dessa maneira, além da desigualdade e da falta de representatividade, as mulheres que persistem na área acabam sendo ainda obrigadas a lidar com relações de poder desiguais. Ainda segundo Camila, “se você for olhar o quadro de professores, as mulheres têm uma representatividade muito maior do que no mercado, porque, a partir do momento em que a menina se forma, ela se sente muito confortável naquele ambiente universitário, porque já dominou aquele espaço. Quando você chega no mercado, você tem que provar todo dia que você não é uma carinha bonita, que você está rendendo, que está valendo cada centavo do seu salário – que é menor que o do homem na mesma posição -, então existe uma diferença grotesca, desde a tecnologia que é usada até o rendimento que você precisa ter.

 

Tem um relato de uma engenheira do Facebook que conta que entra no trabalho às 7h, porque deixa a filha na escola e vai direto trabalhar. Ela trabalha até meio-dia quase sozinha no escritório, porque todos os caras chegam depois. E ela sai às 18h para buscar a filha e os colegas ficam comentando 'olha como ela tá desmotivada, olha como ela é ruim', sendo que ela trabalhou tanto ou até mais, mas, naqueles moldes, ela não se encaixa.”, conta.

 

Parece desanimador, mas é justamente por conta de todos esses percalços que iniciativas como as de Camila são imprescindíveis para estimular com que mais meninas entrem no mercado. A partir do empoderamento desde a adolescência dessas meninas, com a criação de espaços que podem ir de eventos a blogs específicos onde a troca de ideias e informações seja feita de mulheres para mulheres, é possível transmitir uma visão mais positiva a respeito da posição da mulher no campo da ciência e tecnologia e fazer com que todas saiam encorajadas a seguir uma carreira dentro de um campo que é sim, coisa de mulher.

 


 

Elas também programam - 1 Renata Arruda é jornalista de cultura e especialista em mídias socais. Mantém
um blog sobre livros no Huffington Post Brasil e assina o Prosa Espontânea.


TWITTER: @renata_arruda
INSTAGRAM: prosaespontanea