Amamentação: a realidade não é bela nem prazerosa
No dia primeiro de agosto é comemorado o Dia Mundial da Amamentação. E, durante toda essa semana, todo mundo tem falado da importância do leite materno, do vínculo, do bem que faz para o bebê ... e blá blá blá. Realmente, não vamos nem questionar todo o bem que o leite materno faz. O que eu quero falar aqui, e que pouca gente fala, é do trabalho que isso dá e do quão exaustivo é dar o peito.
Eu amamentei Gabriel por quase nove meses. E, confesso: no final eu não aguentava mais ser a vaca leiteira da casa. Nunca me neguei a dar o peito e, se não fosse a rotina de trabalho, da vida e dele, esse processo não teria sido interrompido antes dos 12 meses, pelo menos. Mas dizer que eu amava, que era pleno, que, UAU!, amamentar era uma realização na minha vida? Não, nunca foi.
Amamentar era uma necessidade do meu filho. Uma obrigação minha e algo que eu sempre soube que vinha no pacotinho. Mas, por diversas vezes, eu não tive o menor saco de dar de mamar.
No início, quando você é mãe de primeira viagem, amamentar é um desafio. Você quer fazer a coisa dar certo, mesmo com os seus mamilos em carne viva e com aquela queimação insuportável quando o leite desce. Mesmo com aquela enfermeira louca espremendo o seu peito contra a boquinha faminta daquele bebê que parece que vai te engolir.
Beleza, passamos por essa, ele está mamando bem.
Aí vem a dependência: a amamentar é algo que ninguém pode fazer no seu lugar. Não tem essa de pedir pra alguém fazer. Eu sempre falei que um dia amamentando valia por uma rave, daquelas que você vira a noite, o dia e depois deseja dormir por umas 48 horas. A única diferença aqui é o sono. Porque o bebê suga todas as suas energias. E depois arrota, faz cocô, suja tudo e precisa ser colocado para dormir. Silêncio na casa...
Aí você pensa: hora de um cochilinho. Mas tem que esterilizar chupeta, colocar a roupa suja de cocô no molho, estender aquela que sujou na mamada anterior. Aí você se dá conta que falta apenas meia hora pro bebê acordar. E corre pra cozinha para engolir algo. Afinal, lembra da rave? A balada não para!
Agora imagina esse ritmo por, pelo menos, seis meses?
Essa era uma das razões que muitas vezes eu tirei o leite do peito e deleguei para o pai, a sogra ou para a quem estivesse perto. Eu precisava dormir, fechar o olho por pelo menos duas horas.
Onde você vê plenitude e realização? Eu vejo uma mãe que tem que amar muito essa criança para a chegar à exaustão e voltar, diversas vezes ao dia, sempre que o chorinho ecoar.
Vínculo? Na boa, isso é bobagem. Tive certeza disso quando Rafinha nasceu e mamou menos de 90 dias. Temos uma relação incrível, somos cúmplices, nos entendemos pelo olhar. Somos plenamente conectados.
O vinculo não está no ato da mulher dar o peito para o filho. Está na relação que ela estabelece com ele. No toque, no cheirinho de cangote, no banho delicado, no carinho, na musiquinha para dormir. O vínculo vai muito além de uma mamada de 40 minutos.
Eu não estou aqui para desencorajar ninguém. Muito pelo contrário. Se você quer ter filho, nega, tenha e ame muito isso, porque não é fácil. Não é cor de rosa, não é glamoroso. Tem que amar muito pra fazer tudo dar certo e não enlouquecer. Tem que administrar sono, cansaço, fome, falta de sexo, insegurança e obrigações. Tem que, literalmente, ter peito.
Agora... sejamos justas: a realização mesmo se dá quando você chega no pediatra e escuta que o seu boizinho engordou mais de um quilo, cresceu não sei quantos centímetros e está ótimo.
Aí você pensa: tudo isso com o meu leite! Eu tô mandando bem pra cacete!
E esse mérito é da mãe. E do leite que ela dá. Isso sim é recompensador!
Nanna Pretto é jornalista, baiana, casada com paulista e mãe de dois meninos.
É autora do blog Dica de Mãe, que deu origem ao livro “101 coisas que você precisa fazer com seus filhos antes que eles cresçam”. É corredora há mais de 15 anos e tenta fazer da ioga e do ballet um hábito. Ama seriados, reality shows e reprises de filmes.
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